A REGRA MÁXIMA


CARISMA.
• O que é?
o Termo utilizado para indicar um dos diversos dons ou graças especiais concedidos pelo Espírito Santo, àqueles desejosos de servir a Deus. Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, os carismas "são dons especiais do Espírito, concedidos a alguém para o bem dos homens, para as necessidades do mundo e, em particular, para a edificação da Igreja" (n. 160).

• Os Carismas se enraízam dos sete dons de santificação (Is 11.2): Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus [1]. No Novo testamento são enumerados nove dons do Espírito Santo: palavra de Sabedoria, palavra de Conhecimento (ciência), Fé, dons de Curar, operações de Milagres, Profecia, Discernimento de espíritos, variedade de Línguas, Interpretação de línguas Estes geram formas diversas de atuação no mundo como instrumentos do próprio Deus. Como exemplos, têm-se a vida religiosa contemplativa, apostólica, missionária e a vocação Sacerdotal (pastoral).

PEREGRINOS DO AMOR.
• Peregrino é a pessoa que vai em peregrinação ou romaria. O chamado a ser Peregrino do amor está então, acima de tudo, em ir ao encontro das outras pessoas, levando o amor incondicional de Deus Pai, revelado plenamente no Filho, como maior instrumento e fonte de vida.

Palavra do evangelho – João 13, 31-35
Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará em breve. Filhinhos meus, por um pouco apenas ainda estou convosco. Vós me haveis de procurar, mas como disse aos judeus, também vos digo agora a vós: para onde eu vou, vós não podeis ir. Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.

Nesta palavra está contido todo o nosso carisma, aquilo que é e será instrumento de salvação para nossa vida e a de todos os que nossa Comunidade atingir.

Palavra Bíblica – I João 4, 7-21
Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados. Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito. Nisto é que conhecemos que estamos nele e ele em nós, por ele nos ter dado o seu Espírito. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo. Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. Nisto é perfeito em nós o amor: que tenhamos confiança no dia do julgamento, pois, como ele é, assim também nós o somos neste mundo. No amor não há temor. Antes, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor envolve castigo, e quem teme não é perfeito no amor. Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão.

A verdade dessa palavra precisa estar gravada em nossos corações e personificada em nossos atos e nossas palavras. Nesta palavra está contida a regra de vida fundamental de nossa comunidade e nossa espiritualidade.

Regra 1:
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”.

O amor é nascido de Deus e é o próprio Deus. Amar uns aos outros como forma de personificar a Pessoa de Deus em nosso meio. Só pode conhecer a Deus quem sabe amar o outro intensa e incondicionalmente, trazendo a graça para perto de nós.
O amor pelo irmão de comunidade é a primeira ordem de Deus para nós, pois só poderemos ser romeiros do amor se verdadeiramente nos amarmos e nos suportarmos mutuamente.

Regra 2:
“Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele”.

O amor de Deus em nosso meio é manifestado por sua gratuidade e incondicionalidade. É o Pai amoroso que nos enviou seu único Filho para nos redimir e nos salvar. É a promessa fiel do Pai contida plenamente no Filho.
A vida da comunidade deve estar plenamente fundamentada em Cristo, vivendo por Ele, sofrendo e amando por Ele. O amor de Deus em nós será manifestado e conhecido pelos outros se verdadeiramente vivermos por Cristo.

Regra 3:
“Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados”.

Precisamos entender o que Deus fez por nós, para não nos sentirmos melhores do que ninguém. A verdade do nosso carisma está em aceitar que não fomos nós que amamos a Deus ou que o escolhemos, mas sim Deus que nos amou e nos perdoou de nossas transgressões e limitações por meio de Jesus.
Ser peregrino do amor é, antes de tudo, compreender a imensidão da graça que Deus realizou em nossas vidas, nos perdoando e nos amando por primeiro, antes do nosso nascimento, conforme diz a palavra: “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações” (Jeremias 1-5).
Ele não olhou nossos pecados e nossas limitações e não levou em consideração nossas faltas e infidelidades. Não impôs condição para nos amar e nos perdoar e chegou até as últimas conseqüências para nos curar e selar nosso coração com o Dele.

Regra 4:
“Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito”.

Somente reconhecendo a maneira que Deus nos amou é que poderemos nos amar verdadeiramente. O amor é, antes de qualquer coisa, uma decisão verdadeira pelo outro. O amor é um compromisso com a virtude e a miséria do outro.
Que nossa comunidade aprenda verdadeiramente que o amor verdadeiro pelo outro é a maneira mais perfeita de vermos a face de Deus. O amor mútuo é a maior oração, pois nele está a permanência de Deus em nosso meio.
Que a nossa maior busca seja tentar alcançar a perfeição do amor de Deus em nós através da nossa forma de amar o outro.

Regra 5:
“Nisto é que conhecemos que estamos nele e ele em nós, por ele nos ter dado o seu Espírito. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo”.

A graça do Espírito Santo e seus carismas em nosso meio é a forma mais pura e simples de reconhecermos se estamos verdadeiramente em Cristo e Ele em nós. O Espírito que nos é dado é o que nos une, nos congrega e nos dá força para caminharmos.
Para sermos testemunhas de Jesus Cristo salvador e redentor para o mundo, necessitamos da força do Espírito Santo. Somente assim seremos verdadeiramente testemunhas Dele e conseguiremos cumprir o carisma de levar o amor.
O testemunho é a expressão máxima daquele que se encontrou e continua se encontrando com o Cristo ressuscitado, e por isso, não devemos cochilar na oração, na leitura da palavra e na comunhão eucarística.

Regra 6:
“Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele”.

Neste verso está contido integralmente nosso verdadeiro apostolado. Proclamar com atos e palavras que Jesus é o Filho de Deus. Que todos os trabalhos apostólicos anunciem a verdade da salvação em Cristo Jesus, para que o amor de Deus permaneça em nós.
Que jamais possamos perder o sentido verdadeiro dessa particularidade de nosso carisma, onde só conseguiremos proclamar para o outro aquilo que vivemos verdadeiramente entre nós. Nada do que fazemos é mérito próprio, pelo contrário, tudo vem de Cristo e da permanência em Seu amor.
Levar os outros a amar e proclamar que Jesus Cristo é o Senhor só será possível se nós fizermos isso por primeiro e acreditarmos que é somente na permanência do amor que conseguiremos.

Regra 7:
“Nisto é perfeito em nós o amor: que tenhamos confiança no dia do julgamento, pois, como ele é, assim também nós o somos neste mundo. No amor não há temor. Antes, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor envolve castigo, e quem teme não é perfeito no amor. Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro”.

Em Deus só existe amor. Ele é o Amor em sua mais profunda perfeição. Quem permanece crendo nessa verdade não precisa ter medo. No amor não existe espaço para o medo. Quando se está em Deus, não podemos ter medo se estamos permanecendo na busca continua de Deus.
É o amor que “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (Coríntios 13, 7). No amor verdadeiro não existe limites e por isso, não deve existir medo.
Entregar-se no amor sem medo de não sermos compreendidos pelo mundo é a expressão máxima de nosso carisma.

Regra 8:
“Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão”.

O ódio, o rancor, o ressentimento ou a falta de perdão são sentimentos que não podem ser cultivados no coração de um peregrino do amor. Se amar e levar o amor através da palavra e dos atos é a expressão máxima de nosso carisma, esses sentimentos são integralmente contra o nosso chamado.
É um alerta para o esfriamento ou a morte total do carisma em nós, se deixarmos que sentimentos contrários ao amor tomem conta de nossos corações.
Nosso baluarte João Paulo II nos ensinou muito bem a dimensão do amor incondicional ao outro quando foi levar o perdão aquele homem que tentou matá-lo. Sabemos que aquele tiro tirou sua saúde e o acompanhou até o fim de sua vida, mas mesmo assim o João de Deus amou até o fim.
Essa é a lição maior que temos que aprender para cultivar em nós o carisma gravado por Deus em nossos corações.

Ser um peregrino do amor é...
O carisma e o chamado que Deus realiza em nós precisa nos santificar e nos encaminhar para a plenitude da vida em Cristo. Por essa razão, o carisma de levar o amor de Cristo precisa transformar nossas vidas e restaurar nossas atitudes cotidianas, formando-nos para a vivência do Reino de Deus.
A coerência dos atos devem refletir no coração missionário e, acima de qualquer coisa, é preciso viver a experiência do amor para que possa então levar esse mesmo amor.
Precisamos, portanto, compreender o que é o amor e qual tipo de amor deve levar para os outros, já que esse sentimento tornou-se tão banalizado em nosso tempo moderno.
São João apóstolo definiu Deus, dizendo: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele”.
São Francisco de Assis um dia disse para um camponês:
“Meu irmão, o meu Senhor está na Cruz e me perguntas por que choro? Quisera ser neste momento o maior oceano da terra, para ter tudo isso de lágrimas. Quisera que se abrissem ao mesmo tempo todas as comportas do mundo e se soltassem em cataratas e os dilúvios para me emprestarem mais lágrimas. Mais ainda que juntemos todos os rios e todos os mares, não haverá lágrima suficiente para chorar a dor e o amor de meu Senhor crucificado. Quisera ter asas invencíveis de uma águia para atravessar as cordilheiras e gritar sobre as cidades: o Amor não é amado! O Amor não é amado! Como é que os homens podem amar uns aos outros e não amar o amor?”.
João Paulo II afirmou em uma de suas mensagens que “Somente o que é construído sobre Deus, sobre o amor, é durável”.
Mas foi São Paulo, o grande missionário e apóstolo, que conseguiu expressar um pouco da imensidão do amor de Deus, o amor incondicional, incomparável, eterno e perfeito.

Hino ao Amor – I Coríntios 13, 1-13
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade”.

Esse hino do amor é, sem dúvida, o exemplo máximo de nossa espiritualidade, e como o nosso carisma poderá nos salvar todos os dias. Portanto, surge aqui, mas algumas regras espirituais, para que todo o peregrino(a) do amor possa seguir com devoção, obediência e amor.

Regra 9:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada”.

É importante compreender que nem os dons espirituais, nem a sabedoria ou até mesmo a fé podem substituir o amor. Apesar de serem grandes coisas, sem a ligação perfeita com o amor, não tem valor algum.
É preciso compreender que todas essas coisas devem nascer do amor para ser verdadeiro e resistir sobre o tempo, assim como afirmou João Paulo II, pois somente o que é construído sobre o amor é durável.
Como discípulos e missionários do Senhor, não precisamos pedir dons espirituais, sabedoria ou fé, mas precisamos pedir mais amor, e tudo virá em acréscimo.
Pois o que me adiantaria ser um missionário repleto de dons e conhecimento se não consigo transpassar amor em minhas ações? O cumprimento pleno de nosso carisma é levar o amor revelado em Jesus, ao contrário de levar minhas próprias convicções e minhas vaidades.
Enfim, se não consigo amar o amor e leva-lo em minhas atitudes de fé e de serviço, não estou conseguindo cumprir o verdadeiro sentido da missão.

Regra 10:
“Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!”.

O despojamento, a renúncia, a entrega dos bens ou da vida, ou qualquer outra forma de doação sem o princípio máximo do amor não tem valor nenhum.
Paulo, em seu texto, cita o máximo da entrega corporal, ou seja, nem mesmo o despojamento do próprio corpo para ser queimado ao fogo não teria valor sem o propósito maior do amor.
É profundo e instigante pensar que até mesmo os propósitos e boas ações podem não ter valor, se estes não forem desprendidos de qualquer tipo de vaidade ou interesse.
Será que quando damos algo de nós, estamos fazendo em nome do amor maior? Pode não ser fácil responder essa pergunta!
Jesus mesmo alertou aqueles grandes do Templo que doavam grandes quantias e a vaidade estava em seus corações. Ao contrário, Ele exaltou aquela viúva pobre, que dava algumas moedinhas, porém, enquanto todos davam aquilo que sobrava, ela estava dando tudo o que tinha.

Regra 11:
“A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade”.

Nesse maravilhoso trecho do hino, São Paulo trabalha as características de um amor verdadeiro e duradouro. Portanto, coerentemente, todos os missionários do amor precisam adquirir estas características com o tempo, pois isso demonstrará se o carisma está realizando seu efeito na vida interior de cada um.

• “A caridade é paciente” - uma virtude fundamental de um missionário do amor. A paciência é uma forma concreta de demonstrar amor pelos outros, respeitando seus limites, suas inquietações e, até mesmo, se possível, a falta de amor do outro. Esta paciência também se aplica em saber esperar e compreender que Deus tem o seu tempo para todas as coisas. Esperar para realizar nossas vontades é um grande exercício de santidade.
• “A caridade e bondosa” – A bondade é sem dúvida um ponto fundamental do amor. Quando estou repleto do amor de Deus, sinto bondade no coração, pois Deus é a infinita bondade. Ter um coração bom é estar ligado com coisas puras e belas, afeiçoado com as coisas do céu, lugar da plenitude da bondade. Bondade que se manifesta na gentileza e nos pequenos gestos, sorrisos, abraços e palavras.
• “Não tem inveja” – Creio que a inveja seja um dos piores pecados. Invejar alguém consiste em cobiçar as coisas alheias e ainda não desejar que o outro tenha aquela coisa. Foi por inveja que Caim matou Abel e fechou o coração para o amor de Deus. Esse sentimento não pode subsistir dentro de um coração missionário que precisa levar o amor de Cristo para as pessoas. É completamente inadmissível! Ainda que na fraqueza humana, a inveja possa assombrar o coração, é preciso cuidar, lutar e libertar-se desse sentimento, pois é um impedimento para a ação do carisma e do Espírito Santo na vida do missionário. Se o missionário, mesmo após várias tentativas do conselho da comunidade, não renunciar e se libertar desse sentimento, este pode ser um motivo de desligamento temporário ou permanente da comunidade.
• “A caridade não é orgulhosa” – O orgulho vem diretamente contra o perdão, a reconciliação ou a obediência. Um coração orgulhoso demais não consegue abster-se de si, renunciar seus desejos e sonhos, para viver e ajudar o outro. O orgulho mata a palavra anunciada e só consegue ver o defeito do outro. Por essa razão, quanto mais o missionário se encontra com o amor, ainda mais ele renuncia seu orgulho e prepotência, para dar livre acesso ao Espírito Santo.
• “Não é arrogante” – arrogante é aquele que faz pouco caso sobre os outros, querendo estar sempre por cima, menosprezando e minimizando as pessoas. É óbvio que essa atitude é totalmente incoerente para um missionário, pois, pelo contrário, precisa ser aquele que vai ao encontro desses pequenos, respeitando e amando incondicionalmente. Quando falo “pequenos”, não digo só daqueles com menor ou nenhuma condição financeira, mas também aqueles que não conhecem a Deus, e precisam ser amados e acolhidos. A nossa fé e missão é motivo de nosso encontro pessoal com Cristo, porém, isso jamais poderá nos tornar arrogantes, pensando ser mais “dignos” do que os outros.
• “Não é escandalosa” – Escândalo é um ato que pode induzir outro para o pecado, ou seja, um mau exemplo, ou ofender o pudor. Por isso, o amor jamais poderá ser escandaloso. Ao contrário do escândalo, o missionário precisa buscar a descrição, o respeito, a sinceridade de coração e o testemunho coerente da vida e dos atos.
• “Não busca seus próprios interesses” – Sem dúvida, esse é o fundamento máximo de uma vida em comunidade. Não buscar seus próprios interesses é compreender que as minhas necessidades não são nem maiores e nem menores do que a dos outros irmãos. Portanto, quando percebo que os outros ao meu redor tem suas necessidades, sonhos, medos e frustrações, começo então a minimizar meus interesses egoístas. É a transformação do “meu” em “nosso”. Cristo nos ensinou a rezar “Pai meu” ou “Pai nosso”? Creio que isso seja uma das renuncias mais difíceis para o missionário, pois vivemos em uma cultura egocêntrica e capitalista.
• “Não se irrita” – Irritar-se é um ato humano comum, porém, o sentimento cristão exige que nos afastemos desse sentimento que só tem a prejudicar a experiência mística em Jesus Cristo. Pode ser que nunca conseguiremos nos afastar totalmente deste sentimento. A irritação tem certa ligação com a ira, um dos pecados capitais. Portanto, quem se irrita facilmente e com qualquer coisa, não consegue viver plenamente o amor cristão na vida. Somente o amor pode vencer a irritação e a indignação, pois só ele consegue acalmar o coração e compreender as misérias humanas. Portanto, aquele que está vivendo o carisma deve colher frutos de silêncio e compreensão que diminuam o sentimento de irritação, ira ou indignação sobre algo ou alguém, tornando a pessoa mais dócil e compreensiva.
• “Não guarda rancor” – Outro ponto fundamental do crescimento espiritual do missionário. O rancor é definido no dicionário como um “ódio secreto e profundo”, ou seja, uma afronta direta ao amor. Um peregrino do amor não pode cultivar ódios e ressentimentos secretos no coração, pois são sentimentos que matam o carisma lentamente. Todo sentimento deste tipo precisa ser trabalho, cuidado e curado do coração do missionário, para que este possa conseguir cumprir plenamente seu chamado com a comunidade e com o mundo.
• “Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade” – Alegrar-se com a verdade e entristecer-se com a mentira e injustiça é uma qualidade essencial de qualquer cristão. Existem pessoas que gostam de ver a injustiça só para ter o que falar dos outros. A alegria maior de qualquer homem ou mulher que conheceu Jesus é conseguir instaurar um Reino de justiça, paz e verdade. Portanto, todos devemos buscar o que é justo e verdadeiro, lutando contra nossos egoísmos, mentiras e individualidades vãs, que só tendem a destruir o outro.

Regra 12:
“Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

Aqui encontramos o fundamento máximo das características do amor de Deus que, por conseqüência, são as características máximas do peregrino do amor. Essa regra traz a incondicionalidade do amor de Deus por nós e, consequentemente, sua capacidade de amar sem limites.
É esse amor incondicional do Pai que Jesus revelou e que somos chamados a levá-lo em peregrinação para aonde o Senhor nos enviar. A disponibilidade de desculpar, crer, esperar e suportar tudo para cumprir a instauração do Reino de Deus.
Aplicando isso na vida em comunidade, precisamos desculpar tudo no outro, crer em Deus e na mudança do nosso coração e do outro, esperar pelo tempo certo para essas mudanças e suportar uns aos outros para que seja possível alcançar a conversão e a santidade.